É necessário ter experiência para intervir em espaço institucional?
Qualquer estudante de Serviço Social, independente da área de intervenção que escolher trabalhar, aprende sobre o Saber do Serviço Social, o seu Saber Ser, Saber Estar e Saber Fazer. Aprende os objectivos, pressupostos, fundamentos e sobre a intervenção em Serviço Social, durante os anos de Licenciatura, podendo este Saber ser aprimorado por Mestrado, Pós-Graduações, formações várias e Supervisão Profissional.
Nenhum profissional, seja de que área for, tem qualquer experiência profissional, a não ser a que adquiriu em estágio académico, quando ele existe. E esta experiência académica será tão mais proveitosa na vida profissional, quanto o seu projecto de estágio proporcionar o contacto com a realidade, aliar a teoria à prática, promover a interacção com profissionais experientes, trabalhar as habilidades e competências necessárias para a inserção no mercado de trabalho e para a intervenção,incentivar a observação participante e a respectiva discussão crítica. Ou seja, com objectivos de intervenção claros e bem definidos e com uma orientação técnica empenhada e consciente da sua importância na vida profissional do futuro colega, ensinando pelo seu saber teórico-prático e o seu exemplo de intervenção.
Toda a cultura organizacional sabe que os os profissionais saem da escola com muito mais saber teórico do que prático e por isso, pede nas suas contratações, profissionais com experiência. A incongruência é que um recém licenciado apenas adquire experiência, praticando, errando, tendo dúvidas, refletindo, avaliando e encontrando o caminho, construindo passo a passo a sua experiência profissional.
Defendo que todo e qualquer profissional necessita de supervisão profissional, ou seja, de acompanhamento e orientação técnica desde o início da sua carreira, para construir bem a sua experiência profissional. Somos uma profissão com extremas responsabilidades. Trabalhamos com Pessoas, muitas delas em desconstrução e em re-construção.
Sendo que a mudança social e a promoção do bem-estar das pessoas são dois dos objectivos do Serviço Social, que a capacitação, a emancipação e o empowerment das pessoas, alguns dos seus pressupostos e a intervenção é dirigida para a mudança social ao nível das populações e para o desenvolvimento social, então não chega apenas a licenciatura e um estágio profissional.
Intervir com a ética devida, saber utilizar o não julgamento, saber intervir para a criação do projecto de vida com o outro, não sendo responsável por mais desconstruções na vida de quem já se encontra desconstruído, é fundamental.
Trabalhar para a mudança social, a capacitação eu empowerment, é um trabalho árduo, difícil e por isso não pode ser feito por qualquer um. Há que saber fazer, saber estar e saber ser.
Assim, defendo que o que qualquer profissional necessita, independentemente de trabalhar em espaço público ou privado é ter acompanhamento e orientação técnica e iniciar um processo de auto-conhecimento, para que a sua experiência profissional seja imbuída de boas práticas. Adquirir experiência sem acompanhamento técnico, tem, muitas vezes, um efeito perverso, onde as más práticas se podem consolidar, sem o devido conhecimento do profissional que as pratica.
Um assistente social que inicia a sua intervenção em espaço público,na quase totalidade dos profissionais, não tem qualquer acompanhamento técnico, a não ser que o peça individualmente de forma externa ou a instituição o faça, embora que de uma forma generalizada, não atendendo a necessidades sentidas de cada profissional.
Considero que mais importante que a experiência é a orientação e o acompanhamento técnico feito em supervisão profissional, por um colega mais velho e mais experiente, que já fez o caminho. Mais importante que apenas ter experiência é construir a experiência, intervindo com e em segurança a par com o início de um processo de auto conhecimento, sem o qual, poderá ser labiríntico e hermético, intervir em processos de capacitação, empoderamento,emancipação, bem-estar e mudança social, quer seja em espaço público ou em espaço privado.
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