Olá Caros Amigos,
Escrevo-vos de Faifa , Castro D'Aire . As Serras estão lindíssimas . Do outro lado a Estrela está coberta com um manto branco de 3m de altura e por aqui , pela aldeia, é fabuloso o cheiro a pão fresco pela manhã e o cheiro a fumo a sair das lareiras acesas ainda mal nasce o sol, para que o frio não ganhe nesta luta de fim de inverno.
Durante o dia os cheiros substituem-se uns aos outros, numa dança subtil mas intensa e gostosa, que abre o apetite á medida que se aproximam as horas das refeições. E à noite, é extraordinariamente bom enfiar-me em lençóis quentes , ficar apenas com a luz da lua , ouvir intensamente o som do silêncio e adormecer assim embalada pela natureza . É tão bom os meus filhos terem-me trazido.
E já agora partilho convosco uma pequena lenda de Faifa e mais um pedaço de memórias de todos nós...
O Sino da Capela de Faifa, segundo conta a lenda, terá sido encontrado por uma senhora, num local chamado “Cheira”, que pertence à freguesia de Ester (verdade ou mito?)….
Que ele é especial, lá isso é. Desde o momento em que foi colocado, passou a ser um chamamento para a oração e meditação de todos os habitantes da aldeia. Logo se habituaram a respeitar o seu toque: o toque que os chamava para a missa, o toque para anunciar catástrofes, nomeadamente fogos, o toque das Trindades, o toque para juntar o gado num local pré determinado, para ir para o pastoreio e o toque das intempéries.
O belíssimo toque das Trindades, tocado ao anoitecer, era composto por 12 badaladas, com um determinado intervalo de tempo entre elas. Convidava os faifenses à oração e à meditação. Assim que se ouvia a primeira badalada, os homens tiravam os chapéus da cabeça e as famílias cada uma na sua casa, oravam.
O toque das Intempéries, tocado a rebate (intensamente e sem parar) sempre que a trovoada fosse muito forte. Ao ouvir o sino, todo o povo rezava, fosse a que horas fosse, pedindo protecção celestial (a Deus, a Santa Bárbara, etc). A população acredita que a aldeia foi protegida da destruição provocada pelos raios, exactamente devido ao som do sino. Ainda hoje dizem que “onde chegar o som do sino, não cai faísca”.
Na Páscoa, na Visita Pascal, assim que a Cruz saía da Capela, para o chamado “Compasso”, o Sino tocava até que a Cruz voltasse para a mesma, acompanhando as pessoas na sua devoção à Morte e Ressurreição do Cristo.
O Sino não podia tocar, era absolutamente interdito, três dias durante o ano, que correspondia exactamente ao período da Morte até à Ressurreição de Jesus. Para evitar qualquer incidente, era mesmo retirado a corda do Sino.
Desde há uns anos, com a crescente desertificação da aldeia, optou-se por tocar apenas para o chamamento para a missa.
Mas no coração de cada faifense, do mais pequeno ao mais idoso, o sino ainda ecoa e a sua lenda/história permanece.
Regina Lourenço
Assistente Social - Academia de Empreendedorismo em Serviço Social
Supervisão Profissional em Serviço Social na área do Envelhecimento e Empoderamento Profissional
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